segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Don't bother

Dia 1 de Fevereiro de 2010, 23h10. Para trás deixei D. Dinis e o seu castelo, na certeza de que o rei não teria as preocupações com a ortografia do português que nos assaltam por estes dias e me levaram a Leiria. Desço do quarto 5 ao bar. Não um bar qualquer, mas um espaço regiamente recheado, das tapeçarias aos frescos, passando pelos móveis impecavelmente tratados, mesmo sem esconderem o passar dos anos. Em fundo, a instalação sonora debita o piano de All I ask of you. Sem fantasmas nem ópera na sala, peço um chá de tília, que acompanha a leitura, em traços grossos, do "i" do dia; leitura de pé, por respeito à austeridade da sala. Anuncia-se um ano de 2010 à imagem do mês de Janeiro: deprimido, se a tradição bolsista se mantiver. Prefiro confiar mais na serenidade da tília do que no pessimismo dos números. Talvez por ser de letras e muito dado a lirismos. E porque o espaço em que me encontro é contrafóbico (palavra aplicada por uma amiga ao Álvaro, embora ele ainda não saiba...)! Muda a música, mas toca a mesma tranquilidade. Manda o piano: Send in the clowns. Eles não conhecem o Palace do Bussaco (custa escrever assim a quem sempre se habituou ao Buçaco...), mas, se conhecessem, não quereriam outra coisa! E eu também não! Soube bem esta passagem fugaz pelo lugar onde o tempo pára para repousar! Don't bother. They're here...

PS - Voltou a apetecer-me escrever! E não foi por causa de as letras que encabeçam este post-scriptum terem decidido congelar os ordenados... Elas são grandes, mas não são (mais do que) duas!!!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Não me apetece...

Às vezes, temos de fazer aquilo que não nos apetece. Outras vezes não podemos fazer aquilo que nos apetece. Hoje, apeteceu-me não me apetecer escrever e reparei que já me tem apetecido não escrever no blog há mais de um mês... É muito tempo!!! Por isso, apeteceu-me dizer/explicar que não me tem apetecido escrever, embora ideias e motivos, desde o último post, não faltem!...
Agora que já disse o que me apetecia, apetece-me ir dormir e fazer o balanço de uns originais 37 anos entre os seres deste mundo. E apetece-me também dizer, com os Deolinda, que são uma banda que muitas vezes me apetece ouvir e saborear: "Vão andando que eu vou lá ter"! Só não sei quando e como... e se me vai apetecer! Vou esperar sentado à espera que (me/te) apeteça...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O penico de Portugal

Ouço há muitos anos dizer que o Porto é o penico de Portugal, tanta é a chuva que nos inunda a cada ano que passa! E, no culminar de mais um fim-de-semana diluviano, não poderia concordar mais com a voz do povo! Vá lá, mesmo na pontinha do domingo, encontrei uma frincha sem pinga e pude caminhar durante mais de uma hora na Foz sem precisar de guarda-chuva e com as nuvens seguras por pinças. Regressei a casa antes que elas desabassem. É que não convém abusar da sorte...
Por falar em abusos, duas provocações enquanto escrevo este post.
O VH1 passa "Please don't stop the rain", do James Morrison; adoro a música, mas há alturas em que devia ser proibida...
O site do Instituto de Meteorologia anuncia: "Seca meteorológica desagrava-se em Novembro". Desagrava-se???!!! Haja pudor de dar uma notícia destas quando estamos mergulhados em chuva há semanas. Ok. Foi apenas um acesso de fúria contra aquelas informações bem comportadas que, por vezes, ouvimos e lemos na pior altura. Como quando estamos ainda a saborear os restinhos do Verão e alguém vem lembrar que já não chove há muito, que a seca é grande, a pior dos últimos não-sei-quantos anos e outras estatísticas agoirentas... Deixem-nos gozar o bom tempo, que há muito tempo para aguentar o mau... Como agora!

domingo, 29 de novembro de 2009

Tão laaaamechas e... Happy!



Eu sei que é lamechas, mas tenho fases (muitas, longas, grandes...) em que gosto de ouvir coisas assim. E a voz, quer se goste ou não da(s) letra(s), é fabulosa! Aí está a Miss XFactor de volta, com mais um álbum e um tema que prende ou gruda, conforme a perspectiva...
Este é o tipo de canções que aborda as questões do dia-a-dia, embora de uma forma demasiado evidente e, por isso, pouco artística. E é ou não verdade que, quando estamos magoados, não nos preocupamos muito com "the pain in front of me"? Não é politicamente correcto assumi-lo numa canção pop, mas é mesmo assim... Continuo a achar que, para ajudar os outros, temos mesmo de estar bem com nós próprios! Mesmo que seja politicamente correcto dizer o contrário...

sábado, 14 de novembro de 2009

Testos e panelas


É muito feliz a palavra que pelo Norte utilizamos para designar a tampa da panela: testo! É denso como um texto, acolhedor como um texto, mas mais fechado: testo. E serve para isso mesmo, para fechar, tapar panelas e tachos. E diz o povo, por estas bandas, que há sempre um testo para uma panela, não propriamente no sentido de a fechar, mas de a completar e de juntos formarem uma combinação para a vida.
Tal como muitos provérbios, este tem uma leitura genérica colectiva e não distributiva, ou seja, aplica-se a um determinado universo na generalidade e não forçosamente a cada um dos elementos desse universo. É semelhante à diferença existente entre a frase "O homem é um mamífero" (igual a "cada um dos homens é um mamífero": leitura distributiva) e a frase "O português gosta de opinar sobre tudo" (igual a "uma parte significativa dos portugueses – mas não todos – gosta de opinar sobre tudo:" leitura colectiva).
Na verdade, há alguns testos mais desajeitados, enferrujados, desajustados, que apenas tapam um ou outro recipiente de vez em quando, sem terem tacho ou panela fixos e sendo usados apenas à falta de melhor opção. Estão condenados à solidão, até enferrujarem completamente e serem ecologicamente descartados.
Há panelas igualmente desconchavadas, demasiado desbocadas, que apenas são utilizadas em último caso, para ferver um pouco de água ou cozer aquela carne ou aquele peixe que deixa muito mal tratados os receptáculos que o acolhem. À primeira oportunidade, também são despachados para o além, sem direito a registo ou aviso de recepção.
E, assim, estas criaturas saem do trem da cozinha e entram no comboio do desterro, que as leva para muito longe da vista das pessoas, perante as quais incomodam e se incomodam. Embarcam numa viagem que mostra bem como os provérbios não distribuem verdades absolutas, mas, na sua sabedoria, instituem verdades apenas colectivas.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Spla...shi!!!

Quem me conhece sabe que eu não gosto de sushi: ADORO!
E, como quem não é para comer não é para trabalhar, na ESE temos o hábito salutar de falar de gastronomia durante a labuta. No outro dia, o Rui Bessa contou que ouviu dizer que tinha aberto um restaurante de sushi nos Poveiros. Hmmm!...
Numa terça-feira de chuva (ok, pode ser qualquer uma das últimas 500 aqui no Porto...), ele e eu resolvemos assaltar o dito espaço. Chama-se Splashback e, além da sala de sushi, tem um bar-concerto no primeiro andar e um lounge no segundo. Explicava-me o Rui Paulino David, músico de primeira água que conheço há uns anos e que fui lá redescobrir, que a ideia é acolher quem se passeia pela Baixa ao fim de tarde e quer ouvir um pouco de música e relaxar enquanto faz horas para jantar. Assim, é possível juntar o agradável ao muito agradável no mesmo espaço. É só mudar de piso...
Quando mergulhámos no sushi, chegámos ao paraíso. Criativo, delicioso e equilibrado na relação qualidade/preço! Sessenta e tal peças depois (onde está o emoticon com o ar envergonhado?...), saímos com vontade de voltar um dia destes! Já era tempo de reforçar o contingente sushesco do lado oriental da cidade, que o lado ocidental está magnificamente servido...
Quando eu parar de rebolar e voltar a andar normalmente, prometo voltar ao "Splash"! Alguém se quer juntar?

Será birra? Será Natal?



Até há bem pouco tempo não me imaginaria a colocar no blog um videoclip do David Fonseca. Tenho de admitir que a voz dele sempre me irritou um pouco... Parece que ainda estou a ouvi-lo repetir "Superstars" até à exaustão, num timbre arrepiante! Se as letras se aguenta(va)m, apesar de uma amiga minha estar sempre a lembrar-me como são pobres e banais, a voz mexia com os meus interstícios.
E hoje é o dia em que não quebro, nem torço, mas cedo um pouco. Eu que nem sou nada entendido em música, gosto da harmonia sonora, da letra e até de uma voz mais comedida e por isso menos agressiva ao ouvido (no meu caso só o esquerdo, que o direito não consegue os mínimos para os Jogos Olímpicos...) de "A cry for love".
Já me questiono se estaria a ser demasiado exigente nas canções anteriores ou se, pelo contrário, o espírito natalício está já a apoderar-se de mim!... Se calhar, foi das primeiras iluminações que já apareceram na cidade.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Um ano depois: é digno... de registo

Foi há um ano e pouco que o meu coração se assustou e me assustou. Recuperei. Recuperei! Mas foi exactamente há um ano que regressei a casa depois de ter passado cinco semanas num paraíso que me devolveu a vida e à vida!
Obrigado à minha Ana, que há dias festejou 90 anos e eu sei que não vai ler isto porque não é frequentadora de blogues (o que é a internet?...)! Muito obrigado mesmo! E obrigado a todos os que me ajudaram a renascer no último ano! A todos mesmo, homens, mulheres e até "parigas", alguns dos quais até têm a simpatia de seguir este blogue. Se me puxaram de volta para a vida, vou tentar não os desiludir afastando-me de novo dela...

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Fazer história com a história da língua para variar

A esta hora, deveria eu estar a ler algo mais sobre a elevação das átonas no Português ou sobre os juízos de valor e o ensino da língua. E vou já a seguir. Mas apeteceu-me tergiversar... sem tergiversar.
Na quarta e na quinta-feira, dias 9 e 10, jogo o meu futuro profissional. São 90 minutos na primeira mão e quase 120 na segunda mão. Jogo os dois desafios em casa, mas com visitas ilustres, que sabem fazer, pelo seu saber e pelo seu prestígio, de qualquer casa a sua casa.
Se as minhas "Variações sobre variação e mudança" convencerem o júri , e se as variações sobre os temas supra-citados e sobre o meu currículo também, arrisco-me a ter um contrato vitalício de fazer inveja àquele que há uns bons anos o João Vieira Pinto assinou com o Benfica.

E sinto que este é um desafio ganho à partida, por muito polémica que possa ser esta afirmação. Tão polémica que convém explicar o que significa ganhar o desafio antes de ele começar... sem pensar fazer prognósticos no fim do jogo. Mesmo sendo uma partida de início de época (e de fim de saldos), é um jogo grande e que estou a preparar há muito tempo, até durante o defeso. Tanto tempo que me tem permitido conquistar várias vitórias: investigar sobre temas que adoro, escrever sobre eles e ser lido por quem tanto sabe sobre o assunto e sobre o ofício da escrita, sentir o apoio constante do 12.º jogador, de tantos 12.ºs jogadores, e chegar à antevéspera do dia H (de História da Língua Portuguesa, de heterogeneidade linguística, social e existencial) com vontade de escrever sobre o tema, em vez de ter vontade de vomitar sobre o dito...
Por isso, mesmo que tropece num tufo de relva com fricativas escondidas, num grupo de adopção com a chuteira estendida ou num canto povoado de ditongos traiçoeiros (ou traiçoairos, ou traiçoeros), já ganhei! E comecei a ganhar quando senti o encorajamento de várias pessoas, sobretudo de algumas cujo espírito estará, férreo, nos dois jogos, mesmo que o corpo esteja noutra parte deste mundo... ou do outro!

No entanto, como desconfio das vitórias morais, vou tentar fazer história com muitos golos em poucos remates, sem dar pontapés na língua portuguesa e na sua história, mesmo que o pontapé de saída aconteça num dia em que a Selecção Nacional joga com uma Hungria cujo idioma nada tem a ver com a nossa língua materna.

Será que as átonas já estão suficientemente elevadas? Vou ver...

sábado, 29 de agosto de 2009

Dar (III)

Dar mundos ao mundo...

A literatura é a forma inesgotável de criar novos mundos e de dar novas cores ao mundo que nos envolve. É uma excelente companhia. Decidi empreender, durante este mês, a leitura de uma obra de fôlego.
Rio das Flores, de Miguel Sousa Tavares, conta, em pouco mais de 600 páginas, a história de uma tradicional família alentejana, proprietária de um latifúndio, e serve-se dos olhos conflituosos dos irmãos Pedro e Diogo Ribera Flores para retratar o(s) mundo(s) das primeiras décadas do séc. XX: o mundo português do fim da Monarquia ao final da Segunda Grande Guerra, com enfoques no advento da República e nas malhas do Estado Novo; o mundo europeu ao sabor das ditaduras que o percorreram; o mundo do Brasil entre o seu próprio Estado Novo e as novas atracções para muitos portugueses.
MST define o seu livro como um romance histórico. Embora o tenha sentido mais como histórico do que como romance, não dei o tempo por mal empregue. A ler e saborear...

Miguel Sousa Tavares, Rio das Flores, Oficina do Livro, 2007 (Brasil: 2008)