domingo, 21 de junho de 2009

Um exercício sobre a confiança

Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar ...

Do latim "confidere"

Da mesma família de fiel, fidelizar, fiável

Ser crédulo

Ficar incrédulo

Desconfiar

Haverá indesconfiar?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O marulhar das palavras

Há palavras que evocam sons; outras evocam silêncios. Há palavras que evocam lu(g)ares; outras evocam nenhures.

Três máscaras de nós próprios,
conjugadas com poesia.
Três luas descobertas
ao sabor da maresia.

Eu (ou)vi o fundo do oceano e da alma ao ler estas palavras!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Chover no molhado...

Hoje é dia do Corpo de Deus. Ontem foi dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Talvez a sequência de dois feriados me tenha levado a pensar sobre as formas de chover no molhado que as minhas duas paixões profissionais, o ensino e o jornalismo, têm encontrado ao longo dos tempos.
Muitos de nós nos lembramos das redacções que nos pediam, todos os anos, sobre o dia do pai, o dia da mãe, o verão, o Natal e outras efemérides (palavra feia que me recorda enfermidade, não sei porquê...). Eram normalmente momentos áureos que serviam para tapar buracos, castigar os menos empenhados ou mais barulhentos ou poupar algum engenho na planificação das aulas. Guardo na memória, embora já sem memória rigorosa da fonte da rábula, aquele episódio do aluno que, perante o pedido constante do professor para que escrevesse sobre o seu fim-de-semana, inventava histórias mirabolantes, que apagavam, aos olhos dos outros, a pasmaceira que costumava caracterizar os seus sábados e domingos e deixariam, certamente, consolado o professor. Será que dava para não secar o imaginário das crianças com pedidos tão áridos, insossos, inodoros e incolores?
Também muitos de nós estamos habituados a ver reportagens, em vários órgãos de Comunicação Social, sobre as comemorações do 10 de Junho, o Carnaval do Rio de Janeiro, o Natal dos Hospitais, a Páscoa na aldeia, os títulos do FCP... O problema em si não é noticiar os acontecimentos, mas dar-se um destaque hiperbólico sempre aos mesmos dados: os mesmos políticos a discursar (a notícia não deve ser que eles discursam, mas o que dizem de diferente, se dizem...); as mesmas meninas a dançar, os mesmos pimbas a cantar, os mesmos sinos a tocar e os mesmos adeptos a exultar e a dizer as mesmas coisas. O mundo do jornalismo não informa por pintar o mesmo mundo sempre da mesma cor, mas por mostrar as diferentes cores e tonalidades que os diferentes mundos têm.

Bem, como hoje estou a postar de um modo especial ácido, cito a Adriana (canção Cara ou Coroa, a ouver juntamente com outras em http://www.myspace.com/adrianacompt) e "Vou dar por acabado".
'Bora jantar a casa da Tanicha, onde monotonia e conversas vazias são coisas que não existem!

Entrásteis mas não aprendêsteis!

Estando a Universidade de Évora perto de completar 500 anos, importa que possa vigiar as suas formas de divulgação, sob pena de contribuir para deformar e não para formar. Passa, actualmente, nas rádios um anúncio sobre a dita instituição, com uma futura estudante a anunciar aos pais o ingresso na Universidade. Cito de cor a pergunta do pai, tal qual a ouvimos no spot: "Em que faculdade entrásteis vós, minha filha?". Seria, talvez, interessante que o pai acompanhasse a filha no seu percurso no ensino para aprender que a forma verbal da segunda pessoa do plural do Pretérito Perfeito é entrastes e não entrásteis!
Esta última é facilmente explicável pela hipercorrecção em que muitos falantes incorrem, porque, em outros tempos verbais, a terminação é a mesma (cf. entrais, entrareis, entraríeis...). A tentativa, no spot, de sugerir erudição e antiguidade, com o uso da segunda pessoa do plural, hoje a cair em desuso, mas ainda viva em muitas regiões (e ainda bem!), esboroa-se completamente com este pontapé na gramática. Ocorre-me pensar, com a dose de ironia que cada um quiser assumir, que o recurso a entrásteis acontece para sugerir uma aproximação a Espanha, pois, em castelhano, esta hipercorrecção acabou mesmo por se tornar norma...
Já agora, este post não é um texto contra a hipercorrecção, porquanto se trata de um fenómeno psicológico muito produtivo na formação e evolução das línguas, mas apenas um alerta para as confusões que por aí surgem e afastam os portugueses de uma prática informada da sua língua. Sou contra o ensino cego das regras de gramática, considero útil o visionamento/escuta do erro como estratégia pedagógica para o reparar, mas também não é preciso exagerar.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Por ti (IV)

"Quando o corpo e a terra
Por fim selarem o seu pacto,

Transposta a vala comum
Do momento eterno,

O encontro fica marcado:
Nestes olhos, deste lado".

Nuno Morais

Um sorriso com memória! E com saudades! Muitas! Neste dia e em cada um da existência...

Por ti (III)

"Tudo o que me impressiona tem reflexo em verso. A poesia é a minha legimitação, a legitimação do meu bem e do meu mal, do júbilo ou do desespero que atravesso, do amor de que sou capaz e daquele que falho. Cada verso resulta da assimilação de uma lição". (Nuno Morais)


Hoje é dia de premiar o mundo com a escrita da legitimação! Obrigado por tanto!

Por ti (II)

"Há sobretudo a tua imagem: do amigo-irmão com quem se partilha tudo - amores, alegrias, tristezas - e assim se alimenta a amizade. Sempre!" (Nuno Morais)

A amizade é um lugar de vistas largas, de espaços arejados e coloridos, de memórias intensas e saborosas, de casas amplas e melodiosas; enfim, a amizade é a homenagem à sinestesia, é a festa e a gesta dos sentidos! Nela tudo ganha sentido, tudo derruba barreiras e tudo se refunda a cada instante! A verdadeira amizade não conhece distâncias, não tropeça em armadilhas, nem se deixa sugar pelos torvelinhos sorventes do quotidiano! É às vezes endiabrada, caótica, fulminante, furiosa; às vezes, serena, apaziguadora, tranquilizante; às vezes tudo isto ao mesmo tempo; às vezes silenciosa, discreta... Mas é sempre uma AMIZADE, com a qual a consanguinidade não tem mesmo nada a ver!

Assim és tu... E muito mais!

Por ti (I)

Hoje, ao longo de todo o dia, a memória reavivada:
"Não acredito que possa ser 'triste' ou 'anormal' aquilo que nos realiza, que nos permite sermos nós próprios. Prefiro pensar, com o Terêncio, de que nada do que é humano nos é estranho. O amor é só um, a felicidade é só uma, qualquer que seja a forma de os sentir e realizar". (Nuno Morais)
A vida é um conjunto de viagens. Em algumas embarcamos por vontade; noutras por força das circunstâncias e da injustiça que se semeia nos nossos dias. Em algumas asseguramos banalmente o bilhete de regresso; noutras, agarramo-nos à fé para acreditar que poderemos algum dia validá-lo. Em algumas, percorremos castelos, rios, areias, florestas, cidades, monumentos; noutras, atravessamos para a margem incógnita e ignota.
As palavras que me escreveste e que acima cito assinalaram uma das mais marcantes viagens da minha vida. Espero que estas te cheguem ao porto/ao ponto actual da viagem que há um ano empreendeste.

domingo, 7 de junho de 2009

Dia de reflexão

O dia que há pouco terminou foi dia de reflexão para as eleições europeias. Infelizmente, comecei-o a reflectir nas urgências do Santo António (lugar onde reflecti e também sobre o qual reflecti).
Uma indisposição gástrica e o INEM levaram-me rapidamente até ao HGSA, mas a rapidez ficou mesmo à porta! Os meus antecedentes cardíacos e um desmaio aconselhavam a realização de um electrocardiograma, que demorou 3 horas e meia a ser feito, e de análises ao sangue, cujos resultados chegaram depois das 6h da manhã do dia de reflexão!
Provavelmente ao contrário do que sucede com muitas pessoas, não tenho qualquer razão de queixa de quem me atendeu, médicos e enfermeiros: foram solícitos, profissionais e eficazes no desempenho das suas funções. O problema tem 5 letras e pode inviabilizar qualquer uma das qualidades atrás enunciadas: TEMPO. São muitas horas de espera, nem sempre nas melhores condições, e, contudo, não parece que os funcionários estejam a descansar ou a abrandar o ritmo. Falta mesmo pessoal a trabalhar! Não se espera que este espaço se assemelhe a uma réplica do Serviço de Urgência que faz as delícias televisivas de muitos de nós, mas que consiga oferecer celeridade a quem tanto dela precisa.
Assim, comecei o dia de reflexão em conformidade: como podemos pensar em construir estádios de futebol, aeroportos, linhas para o TGV e outras infra-estruturas certamente (f)úteis conforme a perspectiva quando faltam condições básicas de funcionamento na assistência aos cidadãos? A resposta não é simplex, não ganha eleições e, se calhar por isso, tarda em aparecer...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Daqui até à lua... ou ao Brasil

Pós-título: A falar com(o) as crianças...

Dois temas, dois projectos de canções para crianças:

"Gosto de ti, desde aqui até à lua.
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.
Gosto de ti, simplesmente porque gosto.
E é tão bom viver assim."
André Sardet, Adivinha quanto gosto de ti

"Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas
Pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo."
Adriana Calcanhotto, Fico assim sem você

A diferença vai muito para além da extensão que separa os dois pontos do Atlântico. É que falar com as crianças não significa falar como as crianças!...

Nem bem, nem mal... antes pelo contrário!

Cito do Público (edição online, 05/06/2009): "Os obesos correm o risco acrescido de ter doenças cardiovasculares mas também são os que, relativamente aos magros, sobrevivem melhor a essas patologias, revelou hoje o presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, Manuel Carrageta, citando um estudo norte-americano". E mais adiante: "O 'facto novo' indicado pelo estudo, e também paradoxal, segundo o cardiologista, é que, apesar de a 'obesidade ser um factor de risco muito forte das doenças cardiovasculares, de aumentar a probabilidade do aparecimento de todas as doenças cardíacas', quando a 'pessoa obesa está doente, a doença do coração tem menos gravidade do que nos magros'".
Todos os pontos de interrogação, todos os emoticons de espanto que eu aqui conseguisse colocar não chegariam para dar conta da minha perplexidade. Não porque a explicação, embora lide com o paradoxal, não seja coerente e entendível. É mesmo por dar razão à velha máxima de que "Para morrer basta estar vivo", verdade de La Palice (http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=5526) tão verdadeira quanto assustadora! Tenho mesmo de alinhar com alguns amigos que me dizem mais ou menos isto: "A minha saúde está boa porque eu não ando sempre preocupado com ela"! Pois...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Annie Lennox - Shining Light

Muito refrescante o regresso da Annie Lennox! Até lhe perdoamos que o tema não seja original! Pois... é uma versão de um tema do Ash (http://www.youtube.com/watch?v=SZGcNx8nV8U&feature=related). De qualquer modo, traz algum brilho aos nossos dias, para não dizerem que eu só publico posts tristes. Ainda não disseram, mas é para jogar na antecipação! Hehe!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Secreção da inocência

Os programas da BBC Vida Selvagem ensinam-nos muito sobre a vida de várias espécies, com as quais temos bastante a aprender. No último domingo, enquanto consumia, ao almoço, uma dessas espécies ameaçadas de extinção (o atum), dei comigo a mergulhar na vida secreta dos elefantes (http://www.bbc.co.uk/programmes/b00gtgd2). Tudo à distância, para evitar surpresas!... Fiquei a saber que, quando são jovens e se iniciam no percurso de procura de fêmeas, os elefantes libertam uma secreção da inocência, indicando aos mais velhos que são inofensivos e não constituem concorrência à altura.
Esta manifestação de inocuidade está, aliás, na origem do riso entre os animais e mesmo do sorriso humano, como já muito bem explicou o zoólogo Desmond Morris (http://www.desmond-morris.com/), cujo percurso de investigação se tem dividido entre algumas espécies animais e o próprio homem, que também é, ao cabo e ao resto, um animal.
E a verdade é que encontramos, diariamente, figuras que sabem socorrer-se desse sorriso alegadamente inofensivo para conquistar os favores dos outros, como se libertassem uma secreção da inocência para iludir os mais distraídos! Consigo, sem grande esforço, lembrar-me de algumas figuras do mundo da política que assim actuam quase por princípio, como se o seu sorriso bloqueasse qualquer reacção adversa. Mas também na esfera privada detectamos quem assim proceda, de tal modo que o povo - que verdadeiramente é quem faz a língua, mesmo remando contra ventos de conveniência... - facilmente cria palavras e expressões para sancionar linguisticamente os falsos inocentes. Cara de anjo, cara de tacho, anjinho papudo, sorriso amarelo, sonsice, manhosice são apenas exemplos, cada qual com nuances muito particulares, de como a língua que falamos está, também ela, farta de levar com as secreções da inocência de uns quantos burlistas.