terça-feira, 2 de junho de 2009

Secreção da inocência

Os programas da BBC Vida Selvagem ensinam-nos muito sobre a vida de várias espécies, com as quais temos bastante a aprender. No último domingo, enquanto consumia, ao almoço, uma dessas espécies ameaçadas de extinção (o atum), dei comigo a mergulhar na vida secreta dos elefantes (http://www.bbc.co.uk/programmes/b00gtgd2). Tudo à distância, para evitar surpresas!... Fiquei a saber que, quando são jovens e se iniciam no percurso de procura de fêmeas, os elefantes libertam uma secreção da inocência, indicando aos mais velhos que são inofensivos e não constituem concorrência à altura.
Esta manifestação de inocuidade está, aliás, na origem do riso entre os animais e mesmo do sorriso humano, como já muito bem explicou o zoólogo Desmond Morris (http://www.desmond-morris.com/), cujo percurso de investigação se tem dividido entre algumas espécies animais e o próprio homem, que também é, ao cabo e ao resto, um animal.
E a verdade é que encontramos, diariamente, figuras que sabem socorrer-se desse sorriso alegadamente inofensivo para conquistar os favores dos outros, como se libertassem uma secreção da inocência para iludir os mais distraídos! Consigo, sem grande esforço, lembrar-me de algumas figuras do mundo da política que assim actuam quase por princípio, como se o seu sorriso bloqueasse qualquer reacção adversa. Mas também na esfera privada detectamos quem assim proceda, de tal modo que o povo - que verdadeiramente é quem faz a língua, mesmo remando contra ventos de conveniência... - facilmente cria palavras e expressões para sancionar linguisticamente os falsos inocentes. Cara de anjo, cara de tacho, anjinho papudo, sorriso amarelo, sonsice, manhosice são apenas exemplos, cada qual com nuances muito particulares, de como a língua que falamos está, também ela, farta de levar com as secreções da inocência de uns quantos burlistas.

4 comentários:

  1. As coisas de que te lembras quando ves alguma coisa com trombas....
    Como este rapaz delira....

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  2. O sorriso acaba por ser uma arma poderosa... e por vezes é o melhor dos sistemas de defesa. As coisas que se aprendem com a vida selvagem, que depois podemos aplicar (ou não) nesta selvajaria que é a humanidade (ou as relações humanas).

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  3. Olha, que bem pensado! ;)
    Bem vindo à blogosfera...

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  4. Este post escapou-me quando descobri o seu blog...
    Muito bem pensado... concordo plenamente... só uma observação, se me permite... tenho verificado que as pessoas preferem os que cultivam a secrecção da inocência - que associo também ao canto das sereias... não são elas mais apreciadas e mais bem sucedidas do que as "têtes brulées" que procuram ser igual a elas próprias e não compactuam com essas práticas?
    Em suma, cito Norman Vincent Peale:
    "O mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela crítica."

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