quinta-feira, 11 de junho de 2009

Entrásteis mas não aprendêsteis!

Estando a Universidade de Évora perto de completar 500 anos, importa que possa vigiar as suas formas de divulgação, sob pena de contribuir para deformar e não para formar. Passa, actualmente, nas rádios um anúncio sobre a dita instituição, com uma futura estudante a anunciar aos pais o ingresso na Universidade. Cito de cor a pergunta do pai, tal qual a ouvimos no spot: "Em que faculdade entrásteis vós, minha filha?". Seria, talvez, interessante que o pai acompanhasse a filha no seu percurso no ensino para aprender que a forma verbal da segunda pessoa do plural do Pretérito Perfeito é entrastes e não entrásteis!
Esta última é facilmente explicável pela hipercorrecção em que muitos falantes incorrem, porque, em outros tempos verbais, a terminação é a mesma (cf. entrais, entrareis, entraríeis...). A tentativa, no spot, de sugerir erudição e antiguidade, com o uso da segunda pessoa do plural, hoje a cair em desuso, mas ainda viva em muitas regiões (e ainda bem!), esboroa-se completamente com este pontapé na gramática. Ocorre-me pensar, com a dose de ironia que cada um quiser assumir, que o recurso a entrásteis acontece para sugerir uma aproximação a Espanha, pois, em castelhano, esta hipercorrecção acabou mesmo por se tornar norma...
Já agora, este post não é um texto contra a hipercorrecção, porquanto se trata de um fenómeno psicológico muito produtivo na formação e evolução das línguas, mas apenas um alerta para as confusões que por aí surgem e afastam os portugueses de uma prática informada da sua língua. Sou contra o ensino cego das regras de gramática, considero útil o visionamento/escuta do erro como estratégia pedagógica para o reparar, mas também não é preciso exagerar.

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