segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O penico de Portugal

Ouço há muitos anos dizer que o Porto é o penico de Portugal, tanta é a chuva que nos inunda a cada ano que passa! E, no culminar de mais um fim-de-semana diluviano, não poderia concordar mais com a voz do povo! Vá lá, mesmo na pontinha do domingo, encontrei uma frincha sem pinga e pude caminhar durante mais de uma hora na Foz sem precisar de guarda-chuva e com as nuvens seguras por pinças. Regressei a casa antes que elas desabassem. É que não convém abusar da sorte...
Por falar em abusos, duas provocações enquanto escrevo este post.
O VH1 passa "Please don't stop the rain", do James Morrison; adoro a música, mas há alturas em que devia ser proibida...
O site do Instituto de Meteorologia anuncia: "Seca meteorológica desagrava-se em Novembro". Desagrava-se???!!! Haja pudor de dar uma notícia destas quando estamos mergulhados em chuva há semanas. Ok. Foi apenas um acesso de fúria contra aquelas informações bem comportadas que, por vezes, ouvimos e lemos na pior altura. Como quando estamos ainda a saborear os restinhos do Verão e alguém vem lembrar que já não chove há muito, que a seca é grande, a pior dos últimos não-sei-quantos anos e outras estatísticas agoirentas... Deixem-nos gozar o bom tempo, que há muito tempo para aguentar o mau... Como agora!

domingo, 29 de novembro de 2009

Tão laaaamechas e... Happy!



Eu sei que é lamechas, mas tenho fases (muitas, longas, grandes...) em que gosto de ouvir coisas assim. E a voz, quer se goste ou não da(s) letra(s), é fabulosa! Aí está a Miss XFactor de volta, com mais um álbum e um tema que prende ou gruda, conforme a perspectiva...
Este é o tipo de canções que aborda as questões do dia-a-dia, embora de uma forma demasiado evidente e, por isso, pouco artística. E é ou não verdade que, quando estamos magoados, não nos preocupamos muito com "the pain in front of me"? Não é politicamente correcto assumi-lo numa canção pop, mas é mesmo assim... Continuo a achar que, para ajudar os outros, temos mesmo de estar bem com nós próprios! Mesmo que seja politicamente correcto dizer o contrário...

sábado, 14 de novembro de 2009

Testos e panelas


É muito feliz a palavra que pelo Norte utilizamos para designar a tampa da panela: testo! É denso como um texto, acolhedor como um texto, mas mais fechado: testo. E serve para isso mesmo, para fechar, tapar panelas e tachos. E diz o povo, por estas bandas, que há sempre um testo para uma panela, não propriamente no sentido de a fechar, mas de a completar e de juntos formarem uma combinação para a vida.
Tal como muitos provérbios, este tem uma leitura genérica colectiva e não distributiva, ou seja, aplica-se a um determinado universo na generalidade e não forçosamente a cada um dos elementos desse universo. É semelhante à diferença existente entre a frase "O homem é um mamífero" (igual a "cada um dos homens é um mamífero": leitura distributiva) e a frase "O português gosta de opinar sobre tudo" (igual a "uma parte significativa dos portugueses – mas não todos – gosta de opinar sobre tudo:" leitura colectiva).
Na verdade, há alguns testos mais desajeitados, enferrujados, desajustados, que apenas tapam um ou outro recipiente de vez em quando, sem terem tacho ou panela fixos e sendo usados apenas à falta de melhor opção. Estão condenados à solidão, até enferrujarem completamente e serem ecologicamente descartados.
Há panelas igualmente desconchavadas, demasiado desbocadas, que apenas são utilizadas em último caso, para ferver um pouco de água ou cozer aquela carne ou aquele peixe que deixa muito mal tratados os receptáculos que o acolhem. À primeira oportunidade, também são despachados para o além, sem direito a registo ou aviso de recepção.
E, assim, estas criaturas saem do trem da cozinha e entram no comboio do desterro, que as leva para muito longe da vista das pessoas, perante as quais incomodam e se incomodam. Embarcam numa viagem que mostra bem como os provérbios não distribuem verdades absolutas, mas, na sua sabedoria, instituem verdades apenas colectivas.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Spla...shi!!!

Quem me conhece sabe que eu não gosto de sushi: ADORO!
E, como quem não é para comer não é para trabalhar, na ESE temos o hábito salutar de falar de gastronomia durante a labuta. No outro dia, o Rui Bessa contou que ouviu dizer que tinha aberto um restaurante de sushi nos Poveiros. Hmmm!...
Numa terça-feira de chuva (ok, pode ser qualquer uma das últimas 500 aqui no Porto...), ele e eu resolvemos assaltar o dito espaço. Chama-se Splashback e, além da sala de sushi, tem um bar-concerto no primeiro andar e um lounge no segundo. Explicava-me o Rui Paulino David, músico de primeira água que conheço há uns anos e que fui lá redescobrir, que a ideia é acolher quem se passeia pela Baixa ao fim de tarde e quer ouvir um pouco de música e relaxar enquanto faz horas para jantar. Assim, é possível juntar o agradável ao muito agradável no mesmo espaço. É só mudar de piso...
Quando mergulhámos no sushi, chegámos ao paraíso. Criativo, delicioso e equilibrado na relação qualidade/preço! Sessenta e tal peças depois (onde está o emoticon com o ar envergonhado?...), saímos com vontade de voltar um dia destes! Já era tempo de reforçar o contingente sushesco do lado oriental da cidade, que o lado ocidental está magnificamente servido...
Quando eu parar de rebolar e voltar a andar normalmente, prometo voltar ao "Splash"! Alguém se quer juntar?

Será birra? Será Natal?



Até há bem pouco tempo não me imaginaria a colocar no blog um videoclip do David Fonseca. Tenho de admitir que a voz dele sempre me irritou um pouco... Parece que ainda estou a ouvi-lo repetir "Superstars" até à exaustão, num timbre arrepiante! Se as letras se aguenta(va)m, apesar de uma amiga minha estar sempre a lembrar-me como são pobres e banais, a voz mexia com os meus interstícios.
E hoje é o dia em que não quebro, nem torço, mas cedo um pouco. Eu que nem sou nada entendido em música, gosto da harmonia sonora, da letra e até de uma voz mais comedida e por isso menos agressiva ao ouvido (no meu caso só o esquerdo, que o direito não consegue os mínimos para os Jogos Olímpicos...) de "A cry for love".
Já me questiono se estaria a ser demasiado exigente nas canções anteriores ou se, pelo contrário, o espírito natalício está já a apoderar-se de mim!... Se calhar, foi das primeiras iluminações que já apareceram na cidade.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Um ano depois: é digno... de registo

Foi há um ano e pouco que o meu coração se assustou e me assustou. Recuperei. Recuperei! Mas foi exactamente há um ano que regressei a casa depois de ter passado cinco semanas num paraíso que me devolveu a vida e à vida!
Obrigado à minha Ana, que há dias festejou 90 anos e eu sei que não vai ler isto porque não é frequentadora de blogues (o que é a internet?...)! Muito obrigado mesmo! E obrigado a todos os que me ajudaram a renascer no último ano! A todos mesmo, homens, mulheres e até "parigas", alguns dos quais até têm a simpatia de seguir este blogue. Se me puxaram de volta para a vida, vou tentar não os desiludir afastando-me de novo dela...

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Fazer história com a história da língua para variar

A esta hora, deveria eu estar a ler algo mais sobre a elevação das átonas no Português ou sobre os juízos de valor e o ensino da língua. E vou já a seguir. Mas apeteceu-me tergiversar... sem tergiversar.
Na quarta e na quinta-feira, dias 9 e 10, jogo o meu futuro profissional. São 90 minutos na primeira mão e quase 120 na segunda mão. Jogo os dois desafios em casa, mas com visitas ilustres, que sabem fazer, pelo seu saber e pelo seu prestígio, de qualquer casa a sua casa.
Se as minhas "Variações sobre variação e mudança" convencerem o júri , e se as variações sobre os temas supra-citados e sobre o meu currículo também, arrisco-me a ter um contrato vitalício de fazer inveja àquele que há uns bons anos o João Vieira Pinto assinou com o Benfica.

E sinto que este é um desafio ganho à partida, por muito polémica que possa ser esta afirmação. Tão polémica que convém explicar o que significa ganhar o desafio antes de ele começar... sem pensar fazer prognósticos no fim do jogo. Mesmo sendo uma partida de início de época (e de fim de saldos), é um jogo grande e que estou a preparar há muito tempo, até durante o defeso. Tanto tempo que me tem permitido conquistar várias vitórias: investigar sobre temas que adoro, escrever sobre eles e ser lido por quem tanto sabe sobre o assunto e sobre o ofício da escrita, sentir o apoio constante do 12.º jogador, de tantos 12.ºs jogadores, e chegar à antevéspera do dia H (de História da Língua Portuguesa, de heterogeneidade linguística, social e existencial) com vontade de escrever sobre o tema, em vez de ter vontade de vomitar sobre o dito...
Por isso, mesmo que tropece num tufo de relva com fricativas escondidas, num grupo de adopção com a chuteira estendida ou num canto povoado de ditongos traiçoeiros (ou traiçoairos, ou traiçoeros), já ganhei! E comecei a ganhar quando senti o encorajamento de várias pessoas, sobretudo de algumas cujo espírito estará, férreo, nos dois jogos, mesmo que o corpo esteja noutra parte deste mundo... ou do outro!

No entanto, como desconfio das vitórias morais, vou tentar fazer história com muitos golos em poucos remates, sem dar pontapés na língua portuguesa e na sua história, mesmo que o pontapé de saída aconteça num dia em que a Selecção Nacional joga com uma Hungria cujo idioma nada tem a ver com a nossa língua materna.

Será que as átonas já estão suficientemente elevadas? Vou ver...

sábado, 29 de agosto de 2009

Dar (III)

Dar mundos ao mundo...

A literatura é a forma inesgotável de criar novos mundos e de dar novas cores ao mundo que nos envolve. É uma excelente companhia. Decidi empreender, durante este mês, a leitura de uma obra de fôlego.
Rio das Flores, de Miguel Sousa Tavares, conta, em pouco mais de 600 páginas, a história de uma tradicional família alentejana, proprietária de um latifúndio, e serve-se dos olhos conflituosos dos irmãos Pedro e Diogo Ribera Flores para retratar o(s) mundo(s) das primeiras décadas do séc. XX: o mundo português do fim da Monarquia ao final da Segunda Grande Guerra, com enfoques no advento da República e nas malhas do Estado Novo; o mundo europeu ao sabor das ditaduras que o percorreram; o mundo do Brasil entre o seu próprio Estado Novo e as novas atracções para muitos portugueses.
MST define o seu livro como um romance histórico. Embora o tenha sentido mais como histórico do que como romance, não dei o tempo por mal empregue. A ler e saborear...

Miguel Sousa Tavares, Rio das Flores, Oficina do Livro, 2007 (Brasil: 2008)

Dar (II)

Dar conta das férias...

É habitual os bloggers chegarem a esta altura cheios de vontade de dar conta do que fizeram nas férias. Vou fugir a essa prática: não tenho nada a contar que seja específico das férias; não quero dar conta dos nervos a quem ainda não gozou férias; e havia várias coisas de férias que gostaria de ter feito e não fiz por razões de ânimo...

Dar (I)

Decidi seguir a proposta da Liliana feita nos idos de 30 de Junho e vou publicar, na rentrée, alguns posts sobre "dar".

E começo por dar uma sugestão musical... contra a maré, aquela maré que arrasta para longe de Portugal a Francofonia, alegadamente por não estar na moda.

O cantor chama-se Emmanuel Moire (www.emmanuelmoire.com) ainda não entrou na casa dos 30 e lançou há pouco o seu segundo álbum (L'équilibre). E dispensa, tal como o título da canção, quaisquer palavras...


domingo, 12 de julho de 2009

Reflexalho...

Dias de muito pensatório, de reflexalho, de trabalhaxão!
Sim, de muita confusão na cabeça e gripe no corpo (E, NÃO, não é gripA, é gripO, masculino, portanto)... Haja pacientação!

domingo, 21 de junho de 2009

Um exercício sobre a confiança

Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar Confiar ...

Do latim "confidere"

Da mesma família de fiel, fidelizar, fiável

Ser crédulo

Ficar incrédulo

Desconfiar

Haverá indesconfiar?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O marulhar das palavras

Há palavras que evocam sons; outras evocam silêncios. Há palavras que evocam lu(g)ares; outras evocam nenhures.

Três máscaras de nós próprios,
conjugadas com poesia.
Três luas descobertas
ao sabor da maresia.

Eu (ou)vi o fundo do oceano e da alma ao ler estas palavras!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Chover no molhado...

Hoje é dia do Corpo de Deus. Ontem foi dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Talvez a sequência de dois feriados me tenha levado a pensar sobre as formas de chover no molhado que as minhas duas paixões profissionais, o ensino e o jornalismo, têm encontrado ao longo dos tempos.
Muitos de nós nos lembramos das redacções que nos pediam, todos os anos, sobre o dia do pai, o dia da mãe, o verão, o Natal e outras efemérides (palavra feia que me recorda enfermidade, não sei porquê...). Eram normalmente momentos áureos que serviam para tapar buracos, castigar os menos empenhados ou mais barulhentos ou poupar algum engenho na planificação das aulas. Guardo na memória, embora já sem memória rigorosa da fonte da rábula, aquele episódio do aluno que, perante o pedido constante do professor para que escrevesse sobre o seu fim-de-semana, inventava histórias mirabolantes, que apagavam, aos olhos dos outros, a pasmaceira que costumava caracterizar os seus sábados e domingos e deixariam, certamente, consolado o professor. Será que dava para não secar o imaginário das crianças com pedidos tão áridos, insossos, inodoros e incolores?
Também muitos de nós estamos habituados a ver reportagens, em vários órgãos de Comunicação Social, sobre as comemorações do 10 de Junho, o Carnaval do Rio de Janeiro, o Natal dos Hospitais, a Páscoa na aldeia, os títulos do FCP... O problema em si não é noticiar os acontecimentos, mas dar-se um destaque hiperbólico sempre aos mesmos dados: os mesmos políticos a discursar (a notícia não deve ser que eles discursam, mas o que dizem de diferente, se dizem...); as mesmas meninas a dançar, os mesmos pimbas a cantar, os mesmos sinos a tocar e os mesmos adeptos a exultar e a dizer as mesmas coisas. O mundo do jornalismo não informa por pintar o mesmo mundo sempre da mesma cor, mas por mostrar as diferentes cores e tonalidades que os diferentes mundos têm.

Bem, como hoje estou a postar de um modo especial ácido, cito a Adriana (canção Cara ou Coroa, a ouver juntamente com outras em http://www.myspace.com/adrianacompt) e "Vou dar por acabado".
'Bora jantar a casa da Tanicha, onde monotonia e conversas vazias são coisas que não existem!

Entrásteis mas não aprendêsteis!

Estando a Universidade de Évora perto de completar 500 anos, importa que possa vigiar as suas formas de divulgação, sob pena de contribuir para deformar e não para formar. Passa, actualmente, nas rádios um anúncio sobre a dita instituição, com uma futura estudante a anunciar aos pais o ingresso na Universidade. Cito de cor a pergunta do pai, tal qual a ouvimos no spot: "Em que faculdade entrásteis vós, minha filha?". Seria, talvez, interessante que o pai acompanhasse a filha no seu percurso no ensino para aprender que a forma verbal da segunda pessoa do plural do Pretérito Perfeito é entrastes e não entrásteis!
Esta última é facilmente explicável pela hipercorrecção em que muitos falantes incorrem, porque, em outros tempos verbais, a terminação é a mesma (cf. entrais, entrareis, entraríeis...). A tentativa, no spot, de sugerir erudição e antiguidade, com o uso da segunda pessoa do plural, hoje a cair em desuso, mas ainda viva em muitas regiões (e ainda bem!), esboroa-se completamente com este pontapé na gramática. Ocorre-me pensar, com a dose de ironia que cada um quiser assumir, que o recurso a entrásteis acontece para sugerir uma aproximação a Espanha, pois, em castelhano, esta hipercorrecção acabou mesmo por se tornar norma...
Já agora, este post não é um texto contra a hipercorrecção, porquanto se trata de um fenómeno psicológico muito produtivo na formação e evolução das línguas, mas apenas um alerta para as confusões que por aí surgem e afastam os portugueses de uma prática informada da sua língua. Sou contra o ensino cego das regras de gramática, considero útil o visionamento/escuta do erro como estratégia pedagógica para o reparar, mas também não é preciso exagerar.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Por ti (IV)

"Quando o corpo e a terra
Por fim selarem o seu pacto,

Transposta a vala comum
Do momento eterno,

O encontro fica marcado:
Nestes olhos, deste lado".

Nuno Morais

Um sorriso com memória! E com saudades! Muitas! Neste dia e em cada um da existência...

Por ti (III)

"Tudo o que me impressiona tem reflexo em verso. A poesia é a minha legimitação, a legitimação do meu bem e do meu mal, do júbilo ou do desespero que atravesso, do amor de que sou capaz e daquele que falho. Cada verso resulta da assimilação de uma lição". (Nuno Morais)


Hoje é dia de premiar o mundo com a escrita da legitimação! Obrigado por tanto!

Por ti (II)

"Há sobretudo a tua imagem: do amigo-irmão com quem se partilha tudo - amores, alegrias, tristezas - e assim se alimenta a amizade. Sempre!" (Nuno Morais)

A amizade é um lugar de vistas largas, de espaços arejados e coloridos, de memórias intensas e saborosas, de casas amplas e melodiosas; enfim, a amizade é a homenagem à sinestesia, é a festa e a gesta dos sentidos! Nela tudo ganha sentido, tudo derruba barreiras e tudo se refunda a cada instante! A verdadeira amizade não conhece distâncias, não tropeça em armadilhas, nem se deixa sugar pelos torvelinhos sorventes do quotidiano! É às vezes endiabrada, caótica, fulminante, furiosa; às vezes, serena, apaziguadora, tranquilizante; às vezes tudo isto ao mesmo tempo; às vezes silenciosa, discreta... Mas é sempre uma AMIZADE, com a qual a consanguinidade não tem mesmo nada a ver!

Assim és tu... E muito mais!

Por ti (I)

Hoje, ao longo de todo o dia, a memória reavivada:
"Não acredito que possa ser 'triste' ou 'anormal' aquilo que nos realiza, que nos permite sermos nós próprios. Prefiro pensar, com o Terêncio, de que nada do que é humano nos é estranho. O amor é só um, a felicidade é só uma, qualquer que seja a forma de os sentir e realizar". (Nuno Morais)
A vida é um conjunto de viagens. Em algumas embarcamos por vontade; noutras por força das circunstâncias e da injustiça que se semeia nos nossos dias. Em algumas asseguramos banalmente o bilhete de regresso; noutras, agarramo-nos à fé para acreditar que poderemos algum dia validá-lo. Em algumas, percorremos castelos, rios, areias, florestas, cidades, monumentos; noutras, atravessamos para a margem incógnita e ignota.
As palavras que me escreveste e que acima cito assinalaram uma das mais marcantes viagens da minha vida. Espero que estas te cheguem ao porto/ao ponto actual da viagem que há um ano empreendeste.

domingo, 7 de junho de 2009

Dia de reflexão

O dia que há pouco terminou foi dia de reflexão para as eleições europeias. Infelizmente, comecei-o a reflectir nas urgências do Santo António (lugar onde reflecti e também sobre o qual reflecti).
Uma indisposição gástrica e o INEM levaram-me rapidamente até ao HGSA, mas a rapidez ficou mesmo à porta! Os meus antecedentes cardíacos e um desmaio aconselhavam a realização de um electrocardiograma, que demorou 3 horas e meia a ser feito, e de análises ao sangue, cujos resultados chegaram depois das 6h da manhã do dia de reflexão!
Provavelmente ao contrário do que sucede com muitas pessoas, não tenho qualquer razão de queixa de quem me atendeu, médicos e enfermeiros: foram solícitos, profissionais e eficazes no desempenho das suas funções. O problema tem 5 letras e pode inviabilizar qualquer uma das qualidades atrás enunciadas: TEMPO. São muitas horas de espera, nem sempre nas melhores condições, e, contudo, não parece que os funcionários estejam a descansar ou a abrandar o ritmo. Falta mesmo pessoal a trabalhar! Não se espera que este espaço se assemelhe a uma réplica do Serviço de Urgência que faz as delícias televisivas de muitos de nós, mas que consiga oferecer celeridade a quem tanto dela precisa.
Assim, comecei o dia de reflexão em conformidade: como podemos pensar em construir estádios de futebol, aeroportos, linhas para o TGV e outras infra-estruturas certamente (f)úteis conforme a perspectiva quando faltam condições básicas de funcionamento na assistência aos cidadãos? A resposta não é simplex, não ganha eleições e, se calhar por isso, tarda em aparecer...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Daqui até à lua... ou ao Brasil

Pós-título: A falar com(o) as crianças...

Dois temas, dois projectos de canções para crianças:

"Gosto de ti, desde aqui até à lua.
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.
Gosto de ti, simplesmente porque gosto.
E é tão bom viver assim."
André Sardet, Adivinha quanto gosto de ti

"Eu não existo longe de você
E a solidão é o meu pior castigo
Eu conto as horas
Pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo."
Adriana Calcanhotto, Fico assim sem você

A diferença vai muito para além da extensão que separa os dois pontos do Atlântico. É que falar com as crianças não significa falar como as crianças!...

Nem bem, nem mal... antes pelo contrário!

Cito do Público (edição online, 05/06/2009): "Os obesos correm o risco acrescido de ter doenças cardiovasculares mas também são os que, relativamente aos magros, sobrevivem melhor a essas patologias, revelou hoje o presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, Manuel Carrageta, citando um estudo norte-americano". E mais adiante: "O 'facto novo' indicado pelo estudo, e também paradoxal, segundo o cardiologista, é que, apesar de a 'obesidade ser um factor de risco muito forte das doenças cardiovasculares, de aumentar a probabilidade do aparecimento de todas as doenças cardíacas', quando a 'pessoa obesa está doente, a doença do coração tem menos gravidade do que nos magros'".
Todos os pontos de interrogação, todos os emoticons de espanto que eu aqui conseguisse colocar não chegariam para dar conta da minha perplexidade. Não porque a explicação, embora lide com o paradoxal, não seja coerente e entendível. É mesmo por dar razão à velha máxima de que "Para morrer basta estar vivo", verdade de La Palice (http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=5526) tão verdadeira quanto assustadora! Tenho mesmo de alinhar com alguns amigos que me dizem mais ou menos isto: "A minha saúde está boa porque eu não ando sempre preocupado com ela"! Pois...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Annie Lennox - Shining Light

Muito refrescante o regresso da Annie Lennox! Até lhe perdoamos que o tema não seja original! Pois... é uma versão de um tema do Ash (http://www.youtube.com/watch?v=SZGcNx8nV8U&feature=related). De qualquer modo, traz algum brilho aos nossos dias, para não dizerem que eu só publico posts tristes. Ainda não disseram, mas é para jogar na antecipação! Hehe!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Secreção da inocência

Os programas da BBC Vida Selvagem ensinam-nos muito sobre a vida de várias espécies, com as quais temos bastante a aprender. No último domingo, enquanto consumia, ao almoço, uma dessas espécies ameaçadas de extinção (o atum), dei comigo a mergulhar na vida secreta dos elefantes (http://www.bbc.co.uk/programmes/b00gtgd2). Tudo à distância, para evitar surpresas!... Fiquei a saber que, quando são jovens e se iniciam no percurso de procura de fêmeas, os elefantes libertam uma secreção da inocência, indicando aos mais velhos que são inofensivos e não constituem concorrência à altura.
Esta manifestação de inocuidade está, aliás, na origem do riso entre os animais e mesmo do sorriso humano, como já muito bem explicou o zoólogo Desmond Morris (http://www.desmond-morris.com/), cujo percurso de investigação se tem dividido entre algumas espécies animais e o próprio homem, que também é, ao cabo e ao resto, um animal.
E a verdade é que encontramos, diariamente, figuras que sabem socorrer-se desse sorriso alegadamente inofensivo para conquistar os favores dos outros, como se libertassem uma secreção da inocência para iludir os mais distraídos! Consigo, sem grande esforço, lembrar-me de algumas figuras do mundo da política que assim actuam quase por princípio, como se o seu sorriso bloqueasse qualquer reacção adversa. Mas também na esfera privada detectamos quem assim proceda, de tal modo que o povo - que verdadeiramente é quem faz a língua, mesmo remando contra ventos de conveniência... - facilmente cria palavras e expressões para sancionar linguisticamente os falsos inocentes. Cara de anjo, cara de tacho, anjinho papudo, sorriso amarelo, sonsice, manhosice são apenas exemplos, cada qual com nuances muito particulares, de como a língua que falamos está, também ela, farta de levar com as secreções da inocência de uns quantos burlistas.

domingo, 31 de maio de 2009

Então e o encanto?

Escrevo ao som do relato do FC Porto-P. Ferreira. Por razões profissionais, não pude ver o jogo. Mas pude ouvê-lo! E consegui aperceber-me do desencanto que, por estes dias, o futebol me provoca. Aliás, a mim e a muitos que conheço!
Não sei se será da falta de qualidade dos executantes; ou da falta de empenho de alguns que ganham principescamente numa altura em que tantos clubes vêem o ferrolho prestes a fechar-lhes a porta em definitivo; ou da falta de ética de quem só sabe jogar por fora; ou do despudor de outros que falam e escrevem sobre o fenómeno sem saberem descolar do corpo uma camisola colorida que ostentam; ou...
O jogo já terminou. O FC Porto ganhou. Mas eu não sei se o futebol continuará a ganhar por muito tempo e a ostentar o título de desporto-rei. O rei vai nu e, mesmo com o calor que queima estes dias, isso é fortemente desaconselhável! E lamentável!

Sérias, riquinhas e com muito humor

Escrever é, sem dúvida, uma excelente escapatória! Cria uma fuga aos dissabores do mundo. Mas, mais interessante do que esta constatação tão verdadeira quanto a fugir para o lamechas (nos termos em que a coloquei e não na sua essência, claro!), é a de que o humor também faz maravilhas pela nossa auto, hetero e homo-estima!
Assim, dei comigo a hetero-estimar o blogue de alguém que não conheço, mas que, a fazer fé no título, tem como autoras mulheres sérias e riquinhas. Não ousaria postar este elogio no próprio blogue, porque o meu micaelense não chega para mais do que umas aulas de História da Língua sobre o sistema vocálico tónico do dito dialecto. Para quem não conhece, é um espaço escrito no dialecto de São Miguel e que conta muitas e boas histórias sobre a vida daquela ilha açoriana. E que, acima de tudo, o faz com muito humor! Eu, que até sou fã, por convicção e profissão, de variedades dialectais, não resisti a cuscá-lo e a adorá-lo. Quem estiver interessado, é só espreitar em http://femasrequinhas.blogspot.com/ .
Esta é também uma forma de homenagear os meus amigos açorianos que já tiveram a simpatia de comentar o post inicial, mas também quem, não o sendo, prima por trazer o humor sempre consigo!

sábado, 30 de maio de 2009

Nós... além dos outros

"Il faut se garder d'en déduire des règles de conduite: elles ne doivent pas avoir besoin d'être formulées pour qu'on les suive." (Boris Vian, L'écume des jours)

Se até os grandes Coldplay são acusados de plágio, eu não quero semelhante epíteto e apresso-me a confessar que o título do recém-nascido é inspirado na obra cujo excerto serve de epígrafe a este post. Assim, para início de conversa, dou barbatanas (dar asas era mais poético, mas estragava a metáfora-imagem da espuma do mar...) a um blogue que há-de nadar ao sabor das ondas de cada dia, ou de cada semana, ou de cada mês. E há-de procurar o que se esconde atrás dessas ondas...

Há, de facto, muitas regras que nós somos supostos seguir (uma construção sintáctica britânica para temperar a entrada à la française), mas das quais nem sempre nos apercebemos. Se as regras sociais são codificadas nas práticas quotidianas e nelas se actualizam, as regras de convívio interpessoal têm uma natureza diferente e nem sempre são transparentes.
Às vezes, precisamos de uma certa sensibilidade para perceber quando devemos ficar calados, quando devemos falar, quando estamos a falar de mais, quando estamos calados de mais... E nem sempre é fácil! Às vezes, precisamos de perceber que devemos agir em função do que nós próprios queremos e sentimos, e não apenas em função do que os outros querem! Isto não é uma afirmação egoísta, mas apenas a constatação de que só se estivermos bem poderemos andar de cara levantada e, já agora, acompanhar os outros. Uma das maiores aprendizagens que podemos fazer – que eu tenho feito... – é a de que olhar por nós é o primeiro passo para podermos olhar pelos e para os outros! Porque, na verdade, há coisas que só ganham sentido para nós (mesmo que os outros as vejam há muito) quando nós próprios as dizemos e sentimos...